Sandro Mesquita
Coração quente
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Já estamos percebendo e sentindo nos últimos dias a queda nas temperaturas de todo Estado e País, mas é claro que na região sul o frio é maior. Olhamos para essa questão dentro de uma lógica turística, como possibilidade de bons negócios.
Na Serra, em cidades como Gramado e Canela, o movimento em hotéis e pousadas sempre tem crescimento expressivo por conta também de seus produtos próprios para a estação, como chocolates, vinhos e, claro, diversificada culinária típica da estação. Pessoas de diversos lugares do Brasil onde as temperaturas não costumam baixar de 15ºC vêm para o sul em busca do frio, descanso e neve, entre outras formas de lazer, como ficar em frente às lareiras por exemplo.
Nos pequenos espaços como chácaras e sítios de algumas cidades, essa possibilidade de turismo e bons negócios tem se tornado uma realidade. As casas têm sido adaptadas para receber famílias ou casais, mas igualmente possibilitando aos que ocupam esses espaços e ambientes uma recepção e estadia calorosa. Não somente no sentido literal, mas também no afeto, como é comum do povo gaúcho, sempre muito acolhedor. Como é bom perceber esse crescimento e o despertar de estratégias e mecanismos para explorar as potencialidades turísticas de uma estação que tem em sua característica o frio.
Por outro lado, é o período em que se começa uma grande mobilização para tentar diminuir a dor que as baixas temperaturas causas às pessoas que se encontram dormindo ou vivendo nas ruas. Pessoas que, por opção ou necessidade, fazem do céu e marquises o seu teto, das calçadas suas casas e, às vezes, dos papelões suas camas, dependendo da ajuda alheia para se alimentarem, vestirem e se taparem à noite.
Alguns serviços da Prefeitura ficam disponíveis, como o Centro de Referência da Assistência Social (Cras), o albergue, as casas de passagem. Mas sabemos que não suprem a demanda e que algumas pessoas se acostumaram e preferem conviver com as regras das rua, infelizmente. É nessa hora que a solidariedade entra em ação através de diversas campanhas de arrecadação de roupas e agasalhos. Grandes instituições, várias ONGs e projetos sociais espalhados pelas nossas periferias desenvolvem um excelente trabalho, e não somente no período do frio.
Agora é a hora para nossa humanidade e sensibilidade falar mais alto e pegarmos aquele casaco, blusão, moletom, abrigo, meias, mantas e toucas que talvez não estejam mais servindo, que ocupam espaço no guarda-roupas ou que até estejam fora da cor da tendência para esse ano e, desde que estejam em bom estado, entregar a instituições dos bairros que façam esse trabalho. E que alcançam não somente as pessoas que estão na rua, pois sabemos que muitas vezes faltam até cobertas na cama de quem tem uma casa.
E, para além das doações de roupas e mantimentos, nesse momento também será preciso nos colocarmos à disposição para sermos um a furar a bolha, saindo do próprio mundinho e ajudando uma instituição e uma campanha também de corpo presente.
O convite é: aqueçamos a vida, o corpo e até a alma de outras pessoas. Mas aqueçamos nossos corações com bondade e ações práticas para além de encontrarmos uma caixa de papelão em algum estabelecimento e depositar uma sacola com algumas peças de roupas (o que é válido). Mas não podemos perder a oportunidade de sermos mais humanos.
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